Artistas

C. Graciano

1907 – 1988

Clovis Graciano pintor, desenhista e cinegrafista.

Não se pode dizer que São Paulo não tenha prestigiado Clovis Graciano. Seus murais na Av. Rubem Berta, nas calçadas da Av. Paulista, e no edifício do Diário Popular são apenas alguns entre os inúmeros que ele executou quer em edifícios públicos ou particulares. Porém os murais foram uma paixão que só tomou vulto a partir da década de 50, quando Graciano já tinha atrás de si uma longa trajetória artística, da qual emergiu como um dos mais respeitados artistas de São Paulo.

A respeito desse itinerário e da obra do artista, escreveu Enock Sacramento: “A obra que Clovis Graciano realiza ao longo de 50 anos de atividade artística, é essencialmente figurativa e reflete suas preocupações e anseios ao longo deste período”. Desenha desde a adolescência, mas é em 1934 – 1935 que começa a articular a linguagem plástica que o tornaria um dos mais importantes artistas brasileiros de sua geração.

Desde o início, manifestam-se duas tendências principais na obra de Graciano: de um lado, paisagens, flores, naturezas mortas, músicas bailarinas, santos, pessoas tranquilas e contemplativas, animais; do outro, figuras sofridas de ferroviários, cenas de conteúdo social ou sentido épico. Estas duas tendências persistem em sua produção artística, manifestando-se ora mais num sentido, ora noutro, desdobrando-se em outras expressões.

Estas contradições temáticas constituem tese de antítese de um processo do qual resulta uma síntese, uma perceptível unidade íntima. Já na década de 40, Mário de Andrade assinala que Graciano é o mais consciente dos pintores de São Paulo. De origem humilde e interiorana, Graciano começou a trabalhar ainda garoto, como picador de carvão, alimentando os fornos de uma oficina de carruagens, em Leme. Nesta mesma oficina aprende a técnica da pintura de frisos, placas, emblemas e iniciais dos fazendeiros.

Aos vinte anos, é ferroviário, funcionário da Sorocabana, residindo em Conchas, onde mantém um pequeno atelier nos fundos da estação, pitando placas, indicadores de quilometragem e tabuletas.

Em 1930, presta concurso para fiscal de consumo, cargo que exerceu até 1932, quando a resolução paulista fracassa e ele, como um dos engajados, é preso. Enviado ao presídio da Ilha Grande (RJ), aproveita o tempo livre para desenhar, atividade que o apaixona, e à qual se dedicava inteiro, quando não estava trabalhando.

Livre e de volta a São Paulo, divide o seu tempo entre o trabalho como fiscal e a arte, pintando e desenhando, como autodidata, até conhecer Portinari, que o incentivou e o aconselhou a frequentar o atelier de Waldemar da Costa.

Portinari foi um encontro decisivo para Graciano. Não só pela amizade que desde então devotou ao artista, mas pela influência que exerceu no sentido de despertar em Graciano o desejo do aprimoramento técnico. Entre 1935 e 1937, estuda com Waldemar da Costa, ao mesmo tempo em que frequenta o atelier livre da Escola Paulista de Belas Artes, onde permanece até 1938.

Desde 1937, porém Graciano é um dos artistas que se instala no Edifício Santa Helena, onde já mantinham ateliers os artistas Rebolo, Bonadei, Pennachi, Zanini e outros, conhecidos mais tarde como o Grupo Santa Helena. A característica comum do Grupo está na origem proletária e na preocupação com aperfeiçoamento técnico. Também nessa época começa a participar de salões e coletivas, destacando-se as apresentações no III Salão do Sindicato de Artistas Plásticos de São Paulo, do qual foi um dos fundadores e segundo presidente.

Considerado acadêmico pelos modernos e moderno pelos acadêmicos, as artistas da Família Paulista, entre os quais Rebolo, Volpi e Bonadei exerceram forte influência nos meios artísticos de São Paulo. Sua viagem ao exterior acontece em 1949, como prêmio conquistado na Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1948.

Em Paris, Graciano estuda pintura, mural e gravura, realizando ali e em outras cidades europeias uma série de exposições.

De volta ao Brasil, dois anos depois, pouca coisa fora acrescenta a seu estilo de cunho marcadamente expressionista, influenciado por Portinari e muralistas mexicanos. Amante dos grandes espaços e das escolas naturais, dedica-se à pintura de murais e à execução de cenários para teatro, achando tempo ainda para lecionar na Escola de Arte Dramática de São Paulo e ilustrar jornais, revistas e livros.

Sempre ativo integrante da vanguarda cultural paulista, Graciano foi sócio fundador do Museu de Arte Moderna, presidente do Clube dos Artistas e diretor da Pinacoteca do Estado, cargo para o qual foi designado em 1971, além de presidente da Comissão Estadual de Artes Plásticas e do Conselho Estadual de Cultura.

Fonte

Lousada, Júlio, 1940 – Artes Plásticas: seu mercado: seus leilões/ Júlio Louzada; (prefácios Mino Carta, Pietro Maria Bardi). –São Paulo: J. Louzada, 1984.

Obras do artista

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